Os dias estão mais frios, cada vez mais frios.
Isso não tem relação com o tempo.
Refiro-me ao reflexo dos corações.
Sim, os corações estão cada vez mais frios.
A cada minuto, a distância aumenta.
Não falo da distância de espaço.
Refiro-me a inércia sentimental em relação ao alheio.
Sim, a distância é cada vez maior.
Falta tempo, e, a cada segundo que passa, falta mais.
Todo o tempo que temos, gastamos conosco.
Presos em nossa ganância egoísta.
Sim, falta tempo para termos tempo para o próximo.
A cegueira aumenta gradativamente.
Sua progressão é uma defesa e não contra a nossa vontade.
Não queremos ver, logo fechamos nossos olhos.
Sim, a cegueira aumenta e não vemos a realidade.
Não podemos mais ouvir, estamos surdos.
Os ruídos de nosso mundo particular nos impedem de ouvir.
Então não somos capazes de perceber o clamor dos que sofrem.
Sim, estamos surdos e por isso não atendemos aos pedidos de socorro.
Seguimos indiferentes, mantendo nossos corações frios, distantes do próximo, sem tempo para pensar nos outros, cegos para a realidade e surdos para os pedidos de ajuda.
O caos é evidente, mas você não quer ver, está preocupado em adquirir, logo, sua maior preocupação é a economia, afinal, se em algum momento você perder o controle de sua vida, aparentemente perfeita, pode acabar fazendo parte desses que não são vistos, lembrados, ouvidos e sentidos.
Sim, você pode acabar como os que são mortos injustamente.
Sim, você pode acabar sendo tachado de refugiado, sem um lar, dependendo de alguém.
Sim, você pode se tornar a próxima criança encontrada morta na praia.
Sim, você pode acabar morrendo de fome.
Sim, você pode ficar desempregado.
Sem dinheiro, sem saúde, sem segurança, sem educação, sem liberdade e o pior, sem a compaixão dos que poderiam, de alguma forma, lhe estender a mão.
Autoria: Rafael Silveira
Fonte da imagem original: http://www.acnur.org/t3/portugues/noticias/noticia/acnur-lamenta-profundamente-assassinato-de-refugiado-somali-em-dadaab/
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