Recordo-me de te ver alegre.
Recordo-me de sentir teu perfume, enquanto te arrumava para um passeio.
Recordo-me da tua voz, nos chamando para a mesa.
Recordo-me do teu cuidado.
Recordo-me de te ver batendo o pé, enquanto ouvia o som da gaita e do violão.
Recordo-me das canções que tu cantarolavas, para embalar teus afazeres.
Recordo-me da cama arrumada por ti, para eu deitar-me.
Recordo-me da tua satisfação em servir-nos.
Recordo-me do sabor dos pratos que preparava.
Recordo-me das histórias que contava, sobre o teu passado.
Hoje me deparo com a triste realidade...
A realidade de que a tua alegria não é mais constante.
A realidade de que a tua voz hoje questiona quem são os teus.
A realidade de que teus pés batem, mas pela ansiedade de estar perdida no desconhecido.
A realidade de que não sentes paz, até que durma.
A realidade de que está perdida entre passado e presente, presa nas tuas próprias ou falsas memórias.
A realidade de que não consegue reconhecer os que ama.
A realidade, esmagadoramente cruel, de que nada posso fazer, a não ser observar, cuidar e amar-te, enquanto nos abandona, contra a nossa e a tua vontade.
Quisera eu poder passar mais tempo contigo, para aproveitar o que ainda resta de ti em ti e, em todo esse meu egoísmo, quem sabe, te ver sorrir.
Autoria: Rafael Silveira
Imagem Original:https://pixabay.com/pt/boneca-palha%C3%A7o-triste-banco-1636125/
Esse era pra fazer chorar!? Conseguiu!!!
ResponderExcluirMarcelo, obrigado pela sua participação.
ExcluirA intenção é fazer refletir.
Esse choro é de saudade, o prêmio que recebemos por amar.
O Rafa é, assim, um amigo querido que se vale da poética para criar, em mim, uma pluralidade de afetos. Traduz minha saudade com uma sabedoria desconhecida aos mortais. Descreve ao meu vazio as linhas que libertam meu eu daquela amarga tristeza solitária. Remete-me novamente a condição de construtor de mundos, a minha imaginação que colhe, em meu passado, vividos que ainda não são tão claros a mim. As peripécias de seu pensamento raro me desperta dos “simples rodeios” e me remete ao “eu sou” verdadeiro no corpo criador. Tira textualidades do espírito e os transfere as suas mãos, parece-me, alheias a sua vontade. Vale esclarecer Rafa, também agora afirmar, que mesmo eu quando desprezava o transcendente na morte não o fazia por vontade própria; foram os afetos que me deixaram aqui sozinho, livres de seus corpos adoecidos. Eles me impuseram a sina dessa saudade doída, tão pouco afeita às vicissitudes do meu mundo vivido. Profundamente grato por libertar o amigo.
ResponderExcluirUm abraço afetuoso,
Xavier
Xavier, muito obrigado, grande amigo.
ExcluirPor faltar-me as palavras é que nada mais tenho para dizer.
Muito obrigado!